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Soja - A Bem da verdade

Dr. Daniel Magnoni
Presidente da Sociedade Brasileira de Nutrição Clínica - Nutrição Parenteral e Enteral
Secr. Geral Permanente da Federação Latino Americana de Nutrição Parenteral e Enteral
Diretor do IMeN - Instituto de Metabolismo e Nutrição

Na mídia, comumentemente deparamo-nos com informações, soluções e divagações acerca dos problemas cotidianos. A temática nutrição, dada a sua penetração e franco interesse por parte da população, torna-se alvo de enormes ações corporativistas.
Colocamos no rol de interesses, desde válidos argumentos de ONGs e instituições públicas, até grupos capitalistas e político organizados, embasados na defesa de mercados ou em ações estratégicas de longo prazo.
A resolução de inúmeros problemas da atualidade está sendo colocada, de forma muito simplista, na globalização de relacionamentos, intercâmbio de conhecimentos e liberalidade de condutas mercadológicas.
Nesse contexto cumpre-nos divulgar informações e dados conceituais acerca da soja, produto agrícola mundialmente difundido, de amplo inter-relacionamento com mercados de investimento e de suma importância na composição nutricional dos povos.
A soja pertence ao grupo das leguminosas. Há séculos é cultivada pelos asiáticos e, no entanto, surge como importante nutriente ocidental em meados do primeiro milênio DC.
No século XVIII, diversos pesquisadores europeus, observam a validade protéica e lipídica (óleo) do feijão de soja. Nesse período a preocupação com a utilização da soja, como nutrição animal, suplantava os interesses visando a alimentação humana.
Curiosamente, a soja alcança o mercado americano de carona nos navios cargueiros que retornavam aos Estados Unidos, utilizavam-na como lastro de navios. De forma gradativa, em virtude de seu valor protéico, grupos religiosos adventistas iniciam a utilização da proteína de soja em substituição à de origem animal. Deste marco para a frente, observamos a ampliação de sua utilização como nutriente básico ou suplemento de proteína e óleo no cardápio diário de importante parcela das populações.
A indústria alimentícia, por meio da manipulação do feijão de soja, extrai diversos componentes nutricionais: óleo, fibras, proteína e resíduos.
Historicamente, a soja passou por quatro fases de utilização na indústria alimentícia. Como primeira utilização, caracterizamos a fabricação dos " queijos de soja - tofu" e
a manipulação dos macerados simples. A evolução dos conhecimentos proporciona a semi industrialização, criação do leite de soja, farinhas e compostos ricos em fibras. Na evolução natural do conhecimento houve o desenvolvimento dos óleos mais sofisticados e manipulados na composição em cadeias de insaturação (incremento de polinsaturados ) e o desenvolvimento da proteína de soja em forma mais pura. Por fim, vivemos na atualidade o incremento de técnicas de manipulação nutricional, desenvolvimento da proteína isolada de soja e sua utilização na criação de alimentos especificamente direcionados, como o "leite de soja com sabor de leite de vaca".
No contexto produtivo, os Estados Unidos produzem aproximadamente 60% da soja mundial, conjuntamente com o Brasil (22%), Argentina (4%) e China (4%) atingimos a cifra de 90% de toda a produção. Nesses valores, não se dispõe corretamente da origem genética desses grãos. Estima-se por informações extra oficiais que cinquenta por cento da soja americana seja geneticamente modificada, o mesmo serviria para aquela de origem Argentina.
Aproximadamente 7% da produção mundial destina-se diretamente à alimentação humana e ao desenvolvimento de sementes. Os 93% restantes são usados como ração animal na forma de farelo ou concentrado protéico.
Segundo dados fornecidos pela EMBRAPA, a expansão de fronteiras agrícolas no mundo possui potencial de incremento em torno de 10%, essas áreas concentram-se quase que exclusivamente em países do terceiro mundo, notadamente o Brasil.
Ainda segundo a EMBRAPA, nos últimos 30 anos, o aumento na produção de grãos foi de 87% e o aumento de área plantada foi responsável por 6% desse total.

Destes dados podemos inferir que repousa na produtividade do setor agroindustrial a responsabilidade pelo aumento do abastecimento de nutrientes à população. A produtividade esbarra na necessidade de pesquisas e desenvolvimento de modernas técnicas de produção de sementes, plantio, acompanhamento de áreas plantadas, e seguimento sócio/ político das safras.
A nutrição clínica preocupa-se com o adequado fornecimento de nutrição aos pacientes e à população de forma geral.
Na soja, seus subprodutos e mais especificamente na proteína de soja, repousa um dos principais alicerces da moderna nutrição.
A sociedade deve procurar discutir, por meio de grupos organizados, sociedades de classe e instituições governamentais, todas as possibilidades.
Nesse contexto, resta-nos observar com cautela todos os argumentos favoráveis ou contrários às inovações tecnológicas, como por exemplo os organismos geneticamente modificados.
Existem inúmeros fatores clínicos, ambientais, políticos e econômicos envolvidos.
Muitas lições podem ser apreendidas pelos brasileiros com o episódio da carne versus governo canadense.
Nos próximos anos seremos bombardeados com atuações de grupos internacionais a serviço de todos os interesses, muitos válidos, mas inúmeros voltados a coibir nossos processos produtivos e nossa competitividade internacional.
Resta-nos formular algumas indagações que podem suscitar muita polêmica, mas que devem ser abordadas.
- Possuímos áreas virgens ao plantio de produtos comercialmente muito atraentes. Se utilizássemos sementes geneticamente modificadas que aumentassem nossa produtividade, a quem prejudicaríamos?
- A educação nutricional deve ser implementada nas escolas e na mídia, devemos elucidar a população, para utilizar substratos nutricionais baratos e adequados?
Por fim, o debate está aberto, a sociedade necessita de conceituações claras e isentas, acerca de todos os interesses envolvidos.
Devemos observar todas as ações internacionais, isentar-nos de preconceitos terceiro mundistas e nortear-nos pela construção de uma nação forte, com investimentos em educação, nutrição e em pesquisa básica.

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